Finanças Pessoais: Vamos às compras pt.10
- Felipe Picanço
- 12 de set.
- 8 min de leitura
Olá, pessoal! Tudo bem? Como é que vocês estão?
Na aula de hoje, vamos conversar sobre algo que faz parte do nosso dia a dia e que impacta diretamente nossas finanças: as compras. Vamos aprender a fazer uma gestão mais eficiente, mapeando nosso comportamento quando temos a intenção de comprar algo, seja um item de grande valor ou algo para o nosso cotidiano.
Muitas vezes, fazemos compras baseados na impulsividade, seduzidos por promoções ou por propagandas que nos bombardeiam nas redes sociais. A ideia aqui não é ser radical, do tipo “tudo ou nada”, mas sim mostrar que existem diversas formas de tornar nossas compras mais eficientes para nossas finanças pessoais. Não vou dar dicas do tipo “faça ou morra”, porque o assunto compras tem bastante flexibilidade e depende muito da sua situação atual. Minha intenção é trazer formas aprimoradas de você fazer suas compras, e você adapta o que for útil para sua realidade.
Algo importante para entender é que, tanto para compras cotidianas quanto para as de grande valor, tudo faz parte de um grande planejamento. Aquelas compras que fazemos por impulso, que se misturam com as necessidades reais, geralmente são as piores, pois, como não estavam em nosso planejamento, é bem provável que nem precisávamos daquilo.
O conceito que quero trazer de compra eficiente é que, para comprar bem, precisamos de planejamento. Esse planejamento começa com um desejo ou uma vontade intrínseca. A isso, unimos o planejamento propriamente dito, e, por fim, a ação. Acredito que, no auge da nossa racionalidade financeira, a maioria das nossas compras deveria ser feita a partir de um desejo, com um planejamento claro, e só então a ação para encontrar o melhor caminho e agir. Comprar apenas por vontade ou necessidade, sem planejar, tem uma probabilidade muito maior de consumir uma parte do nosso orçamento que não precisava ser tão grande, e, no pior dos casos, pode nos levar a dívidas ou bagunçar nossas contas.
Então, vamos trabalhar em cima desses três pilares: desejo, planejamento e ação.
Como começamos a pensar em fazer nossas compras de forma mais eficiente? Primeiro, definindo suas metas de consumo. Aquela tabelinha de despesas que criamos já te dá uma foto das suas necessidades. Nela, você pode incluir suas metas de consumo de médio e longo prazo: a aquisição ou troca de um carro, a compra de um imóvel, uma viagem que queira fazer, ou um curso que queira pagar. Há diversos tipos de consumo que se encaixam aqui.
Para ajudar nessa avaliação, farei algumas perguntas. Pense nelas como opções “A” e “B”, onde “A" seria o comportamento menos ideal e "B" o mais ideal. A intenção é que você consiga identificar em qual “caixinha” você se encaixa mais.
Vamos começar com as compras de grande valor, como a aquisição de um carro.
Você é daquelas pessoas que, ao sentir a necessidade de trocar de carro ou a vontade de ter o modelo do ano, vai à concessionária, faz um financiamento na hora (ou vende seu carro atual por um valor depreciado para dar entrada e financiar o restante)?
Ou você é uma pessoa que planeja? Pesquisa o carro do ano, o valor do seu carro atual, e se o novo veículo cabe no seu orçamento? Você junta dinheiro por vários meses e, só após acumular o recurso necessário, adquire o bem, talvez até à vista?
Pelo exemplo, você já consegue identificar qual é o melhor e o pior. Tente se enquadrar no que está mais próximo da sua realidade.
E quando o assunto são as compras do dia a dia? Aquelas idas ao mercado, farmácia, ou hortifruti.
Você faz essas compras quando precisa de algo pontualmente? Tipo, abriu o armário, viu que falta pasta de dente, vai ao mercado, compra e volta. No dia seguinte, abriu, viu que falta um biscoito, vai lá e compra de novo. É um constante bate e volta.
Ou você monta uma lista, seja semanal ou mensal, com periodicidade e previsibilidade? E, o mais importante, se apega a essa lista e compra exatamente o que está nela?
Qual será a melhor opção? Para compras de cotidiano, a forma mais eficiente é ter uma lista. Mas, além dela, você precisa ter um teto de consumo. Ou seja, saber o valor máximo que pode gastar quando vai ao shopping, mercado, ou qualquer loja. Você sabe quanto gastar a cada saída, sem comprometer seu orçamento mensal.
Outro ponto é pesquisar os preços. Você sai de casa sabendo qual o preço médio que espera pagar pelos itens que compra frequentemente? No supermercado, a inflação causa picos e quedas. Naquele período em que você está comprando, o preço daquela fruta específica está favorável? Ou o aumento do consumo de um produto no mês te levou a comprar um lote maior do que precisava, sendo que poderia esperar o mês seguinte para um preço melhor? Ter essa noção de preços médios é essencial para ser crítico na frente da gôndola.
Considere também a proporção por volume. Um item de 250ml custa R$ 10, e um de 500ml custa R$ 20. A proporção está certa. Mas e quando o item de 500ml custa mais barato, ou mais caro, proporcionalmente? Você sabe fazer essa conta no mercado para decidir se vale a pena levar o volume menor ou o maior?
Uma dica antiga, mas sempre válida: faça compras de barriga cheia! Quando estamos bem alimentados, os fatores psicológicos nos dominam menos. No mercado, somos expostos a produtos hiperpalatáveis, vários biscoitos coloridos que estimulam a compra. Com fome, somos muito mais propensos a comprar por impulso. Se você vai de barriga cheia e com uma lista na mão, a chance de errar é mínima.
Por exemplo, você chega no mercado, vê uma promoção de queijos perto da validade. "Oportunidade perfeita para uma noite de queijos e vinhos!\\" Você compra vários, gasta R$ 100, mas o tempo passa, não consegue fazer a noite, e os queijos vencem na geladeira. Você pagou R$ 100, não consumiu o produto, e bate aquele arrependimento. Seu orçamento é impactado por um dinheiro que "vazou" por falta de planejamento. Claro que, em uma emergência, você não fará uma lista, mas a regra geral é sempre manter essa disciplina.
Interessante notar que estudos sobre finanças comportamentais (e comportamento humano em geral) mostram que, quando estamos com fome, tomamos decisões piores. Há um estudo com juízes em Israel que mostrou que, quanto mais próximo do almoço ou jantar, menos favoráveis eram suas decisões judiciais. Eles estavam sob o efeito da fome, o que prejudicava sua racionalidade. Da mesma forma, pessoas com fome em um ambiente de compras (mesmo online) tendem a consumir mais e produtos menos saudáveis, porque a mente busca satisfação imediata para compensar a insatisfação da fome.
Vou trazer aqui alguns pontos e, depois deles, um exemplo de como você pode programar uma compra de forma inteligente, racional e bem planejada.
Como se preparar para uma compra de grande valor:
Liste seus objetivos: Pegue um papel ou sua planilha. Na primeira coluna, liste seus objetivos. Por exemplo: comprar um iPhone, comprar um carro, viajar no ano que vem.
Custo do objetivo: Na coluna seguinte, coloque o custo de cada um: iPhone R$ 6.000, carro R$ 60.000, viagem R$ 10.000.
Lista de prioridades: Agora, ranqueie de 1 a 3 (ou mais, se tiver mais objetivos) o que é mais importante. Talvez o carro seja prioridade 1, a viagem 2 e o iPhone 3.
Prazo para concluir: Defina em meses. iPhone em 6 meses, carro em 3 meses (se for urgente), viagem em 20 meses.
Data de conclusão: Preencha a data exata em que você pretende concluir cada objetivo.
Essa tabela te permite enxergar o quanto vai gastar, estimar o custo de cada objetivo, e, principalmente, gerenciar prioridades se tiver muitos objetivos. Fica mais fácil saber o quanto falta e qual deles pode ser cumprido primeiro.
Agora, precisamos saber o quanto vai custar cada um desses \\"sonhos\\" e quanto você precisa poupar por mês para alcançá-los.
Vamos usar o exemplo da viagem de R$ 12.000 que você planeja para daqui a 24 meses. Se hoje ela custa R$ 12.000, daqui a dois anos, devido à inflação, o preço não será o mesmo. A inflação corrói nosso poder de compra. No Brasil, a meta de inflação anual é de 3%, podendo chegar a 4,5%. Vamos simular com 4,5% ao ano.
Como calcular o custo futuro da viagem (com juros compostos):
Valor Futuro = Valor Presente * (1 + Taxa de Inflação Anual) ^ Número de Anos
No nosso caso: R$ 12.000 * (1 + 0,045) ^ 2 = R$ 13.090,30.
Ou seja, o custo da viagem aumentou mais de mil reais por causa da inflação.
Se você ficar desconfortável com essa conta, sugiro revisitar a aula de matemática financeira para que esses cálculos fiquem mais claros.
Agora, a pergunta crucial: quanto preciso poupar por mês?
Você sabe que hoje tem R$ 0 para essa viagem e precisa ter R$ 13.090,30 em 24 meses.
Podemos usar a função PGTO do Excel. Ela calcula o pagamento periódico necessário.
Vamos considerar uma taxa de juros conservadora para o seu investimento, digamos, 0,5% ao mês.
A fórmula no Excel seria algo como: =PGTO(0,5%;24;0;13090,30).
O resultado será aproximadamente R$ 510.
Isso significa que você precisa poupar R$ 510 por mês pelos próximos 24 meses para ter os R$ 13.090,30 e fazer sua viagem sem se endividar!
Como acompanhar a evolução mês a mês na planilha: Se você somar R$ 510 por 24 meses, dará R$ 12.240, que é menor que os R$ 13.090,30. Por que? Porque cada parcela de R$ 510 será remunerada pelos juros de 0,5% ao mês. Para ver o valor exato no final, você precisaria calcular o valor futuro de cada parcela e somar.
No Mês 1, você aplica R$ 510. Esse valor rende por 23 meses.
No Mês 2, você aplica mais R$ 510. Esse valor rende por 22 meses.
E assim por diante, até o Mês 24, onde a última parcela de R$ 510 renderá por 0 meses.
A soma de todos esses valores futuros renderizados, aí sim, chegará aos R$ 13.090,30.
Esta é uma forma de pegar um sonho e delimitá-lo com base no quanto você tem hoje, no quanto precisará no futuro (já corrigido pela inflação), e no quanto precisa poupar mensalmente para alcançá-lo. Para apartamentos e carros, o financiamento costuma ser mais comum e, muitas vezes, vale mais a pena, pois é mais difícil juntar R$ 500.000 à vista do que R$ 12.000 para uma viagem. Mas para viagens, celulares e geladeiras, juntar primeiro costuma ser mais plausível.
Então, gente, essa foi a nossa aula sobre compras. O objetivo principal foi mostrar como fazer compras de forma mais eficiente, sempre trazendo a ideia do planejamento e da organização como fatores centrais para compras inteligentes.
Para resumir, vou listar alguns pontos principais:
Faça sempre as contas: Calcule o quanto você precisa juntar para fazer uma compra, ou se vale mais a pena comprar à vista ou parcelado.
Pesquise constantemente: Para itens novos, pesquise. Para itens do dia a dia, tenha noção dos preços para saber se está pagando caro ou barato.
Controle impulsos: Sei que existem fatores que nos levam à impulsividade (um dia ruim, notícias ruins, exposição a redes sociais). Avalie o que está gerando essa impulsividade em você e tente tratar a raiz do problema.
Tenha sempre uma lista de compras: Seja em uma planilha, no celular ou no papel, vá criando sua lista aos poucos para ter fácil acesso quando for o dia da compra.
Defina um teto de gastos para cada saída: Ao ir ao shopping, cinema, ou qualquer ambiente de consumo, saiba o valor máximo que você pode gastar, seja com roupas, alimentação ou outros itens.
Faça em conjunto: Não faça tudo isso sozinho. Sempre que planejar compras, envolva as pessoas mais próximas: pais, irmãos, parceiros, filhos. O caminho mais curto para o sucesso nas finanças pessoais é compartilhar e tratar isso como prioridade. Comprar de forma inteligente é um aprendizado conjunto.
A aula de compras foi isso! Acho que tem bastante pontos para anotar. É isso, a gente se vê na próxima aula!




Comentários