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Finanças Pessoais: Crédito e financiamento pt.9

  • Foto do escritor: Felipe Picanço
    Felipe Picanço
  • 12 de set.
  • 6 min de leitura

Olá, pessoal! Tudo bem? Sejam bem-vindos a mais uma aula!


O assunto de hoje será sobre crédito. Vamos entender o crédito como o nível de confiança que as instituições financeiras têm em nós, o relacionamento que construímos com os bancos. É através desse perfil de crédito e consumo que uma instituição financeira consegue determinar se somos bons pagadores ou não. Muita coisa acontece a partir dessa construção de confiança, e desse pilar podemos extrair informações valiosas sobre nossa vida financeira.


Entendendo e Melhorando Seu Perfil de Crédito

Você já deve saber que pode medir seu nível de crédito através de plataformas como SPC e Serasa. É possível fazer uma consulta fácil nesses sites, onde você consegue ter uma "nota" do seu perfil de crédito atual. Ao longo desta aula, vamos ver como você pode mudar alguns comportamentos e estabelecer novas práticas para melhorar essa nota de crédito.


Quando eu trabalhava em banco, era muito interessante visualizar o cadastro dos clientes e identificar, por perfil, a aderência de cada um aos produtos bancários e quão bom pagador ele era. Conseguíamos enxergar, através de dados confiáveis, a probabilidade de pagamento de um cliente ao contratar um produto. Um bom cliente, ou seja, um bom pagador, geralmente tem acesso a taxas de juros melhores. Um mau pagador, por sua vez, acaba pagando taxas de juros maiores.


É importante que entendamos que o crédito, por si só, não é uma coisa ruim. O conceito de crédito é um sinônimo de confiança e relacionamento. O que é ruim é a ausência de crédito (que indica falta de confiança) e, principalmente, o excesso de crédito em sua vida.


O crédito é vital para empresas, por exemplo. Muitas o utilizam para reduzir o quanto pagam em imposto de renda, abatendo juros pagos de dívidas, ou para gerar mais receita, financiando projetos de expansão que trarão um retorno positivo. Essa mesma lógica deve ser aplicada às nossas finanças pessoais. Devemos pegar crédito quando temos um projeto em que o benefício da aquisição desse item ou investimento trará mais retornos do que o custo do juro, pois, como vimos na aula de dívidas, juros mal gerenciados trazem grandes problemas.


Para ter um bom nível de crédito no mercado, o foco deve ser melhorar nosso relacionamento com o banco. Como fazer isso?

  1. Vínculo com o Banco: Concentre seu relacionamento com um ou dois bancos no máximo.

  2. Dados Atualizados: Mantenha seus dados (endereço, telefone, perfil de investidor) sempre atualizados. Isso mostra ao banco que você é um cliente ativo e real.

  3. Declaração de Imposto de Renda: Envie sua declaração de Imposto de Renda ao banco. Isso é crucial para que ele tenha noção do seu patrimônio e da sua geração de renda anual, avaliando sua capacidade de pagamento.

  4. Uso do Cartão de Crédito: Use o cartão de crédito do seu banco. Junto com outros produtos financeiros, isso aumenta seu nível de relacionamento.

  5. Sem Dívidas Abertas: Manter-se sem dívidas em aberto melhora positivamente seu perfil junto ao banco.

  6. Salário no Banco: Receber seu salário no banco (ou fazer a portabilidade para ele) centraliza sua vida financeira e aumenta o relacionamento. Muitos bancos, especialmente os digitais e os grandes, oferecem sistemas de pontuação e benefícios (como ingressos de cinema, créditos em apps, descontos em lojas) para clientes com bom relacionamento e que utilizam seus produtos. Isso gera benefícios indiretos que vão além do financeiro imediato.


Pense no banco como uma casa: se você utiliza bem todos os cômodos, o \\\"proprietário\\\" (o banco) te verá como um bom morador. Isso reflete na concessão e manutenção do seu crédito. Diferente de outros países (como o Canadá, que pode usar até ficha criminal ou notas escolares para definir o crédito), no Brasil, o critério é mais focado em dados financeiros, o que nos dá certa facilidade para obter crédito.


Armadilhas do Crédito e Erros Comuns

Nos últimos cinco anos, o surgimento de bancos digitais e de médio porte aumentou a oferta de crédito no mercado. Embora a diversidade seja boa, esse bombardeio de ofertas é perigoso para quem não está preparado para usar o crédito de forma eficiente. O crédito está disponível para diferentes perfis, desde quem o usa para investir em um negócio até quem já esgotou o crédito em bancos grandes e busca alternativas em instituições menores. O crédito "barato" e disponível a todo tempo nem sempre é bom, a menos que seja usado de forma inteligente.


Listarei alguns erros que eu observava com frequência no perfil de clientes:

  1. Ver o Crédito como Ruim: O crédito, por si só, é positivo, pois reflete sua confiança. O que é ruim é o excesso de crédito.

  2. Fazer Empréstimos para Terceiros: Nunca use seu limite de crédito ou sua confiança com o banco para conseguir um empréstimo para outra pessoa. Se essa pessoa não conseguiu crédito em grandes instituições com cruzamento de dados gigantescos, é porque ela tem um perfil de risco elevado. Se ela não pagar, a dívida será sua. Isso pode gerar problemas financeiros e de relacionamento. A maioria dos casos não tem um final feliz. Prefira ajudar a pessoa a organizar a vida financeira dela do que emprestar dinheiro.

  3. Decisões por Impulso: A grande oferta de crédito, especialmente de bancos digitais que oferecem taxas menores e um limite atraente, nos expõe à impulsividade. É crucial ter um orçamento e um planejamento para reduzir o nível de impulsividade e evitar decisões erradas.

  4. Não Pesquisar Alternativas: Assim como você pesquisa carros e negocia preços, faça o mesmo ao buscar crédito. Negocie a taxa, estude o contrato. É fundamental pesquisar todas as opções disponíveis.

  5. Uso Inadequado de Cheque Especial e Rotativo do Cartão:

    • Cheque Especial: É fácil de usar, pois você não "sente" o dinheiro saindo, mas os juros são altíssimos. Não o veja como uma extensão da sua renda. Ele deve ser usado apenas para emergências pontuais, e quitado o mais rápido possível. Alguns bancos oferecem uns dias sem juros, mas não caia na armadilha de usá-lo como parte do seu salário.

    • Rotativo do Cartão de Crédito: Quando você não paga a fatura total, os juros do rotativo são exorbitantes. Se você não consegue pagar o cartão, é melhor pegar um empréstimo pessoal (que geralmente tem juros mais baixos) para quitar a fatura do cartão do que entrar no rotativo. Ter crédito disponível para essa "troca de dívidas" é uma estratégia inteligente.

  6. Esperar a Dívida "Caducar": Muitas pessoas pensam que, após cinco anos, a dívida some. O SPC e o Serasa podem retirar seu nome da lista de inadimplentes, mas a dívida continua existindo para o credor. Além disso, quem tem essa mentalidade de não pagar dívidas dificilmente espera cinco anos para pegar um novo crédito, acabando em um ciclo vicioso de endividamento.


Hierarquia das Taxas de Crédito

Para ilustrar a diferença entre os tipos de crédito, vamos imaginar um gráfico onde o eixo Y (vertical) mostra dívidas do mais barato ao mais caro, e o eixo X (horizontal) mostra a complexidade da contratação, do mais simples ao mais burocrático.

  • No canto inferior esquerdo (mais barato e mais burocrático), temos o Crédito Educacional, que costuma ter taxas mais baixas.

  • Subindo um pouco, temos o Financiamento Imobiliário: é burocrático, exige muita documentação, mas é mais barato porque seu imóvel serve como garantia para o banco.

  • Em seguida, o Empréstimo Consignado, que é descontado diretamente do seu salário ou benefício, reduzindo o risco para o banco e, consequentemente, os juros.

  • Depois, o Financiamento de Automóveis, também com juros mais baixos por ter o veículo como garantia.

  • No meio do gráfico, podemos encontrar a Penhora de Bens.

  • Subindo na parte de produtos bancários, o Empréstimo Pessoal é mais caro que os anteriores, mas ainda assim mais barato que as opções seguintes.

  • No canto superior direito (mais caro e mais simples de contratar), encontramos o Cheque Especial (quase nem sentimos que o usamos) e o Rotativo do Cartão de Crédito (que parece simples, mas acumula juros absurdos).

  • No topo, o mais caro e problemático de todos, seria o crédito com Agiotas.

Essa hierarquia mostra que nem todo crédito é igual. Sempre que precisar tomar crédito, consulte essa hierarquia e priorize as opções mais baratas e planejadas.


Resumo: Como Ter um Bom Crédito

  1. Prefira Financiamento no Lugar de Empréstimo Pessoal: Financiamentos são mais baratos porque têm um bem ancorado (casa, carro, estudos). Empréstimos pessoais não exigem que você diga para que usará o dinheiro, mas são mais caros.

  2. Mantenha um Bom Nível de Confiança com Seu Banco: E não apenas mantenha, tente aumentar esse relacionamento para ter crédito disponível e outros benefícios.

  3. Substitua Dívidas Caras por Dívidas Baratas: Assuma uma postura proativa. Pesquise e renegocie suas dívidas, sempre buscando taxas de juros menores. Calcule o custo efetivo total, que inclui não só os juros, mas também seguros e outras taxas.

  4. Faça Perguntas Antes de Tomar Crédito:

    • Minha necessidade pode esperar? Evite a impulsividade. Se for urgente, ok, mas se não, aguarde.

    • Não tenho algo para vender? Em situações de dívida, vale a pena buscar todas as fontes de renda, inclusive vendendo bens que não usa mais.

    • Já analisei todas as opções de crédito disponíveis? Converse com seu gerente, pesquise em outros bancos, simule o impacto da parcela no seu orçamento. A parcela é compatível com suas despesas?


A palavra-chave de hoje é confiança. Construa um bom relacionamento com seu banco e questione-se sempre antes de tomar qualquer decisão financeira. Tudo o que fazemos com o dinheiro exige muitas perguntas e respostas exatas e convictas. No caso de dívidas e crédito, isso é ainda mais relevante. Tenha cuidado, esteja atento, e utilize o crédito para trazer um benefício planejado para você, assim como as empresas o fazem.


Pela aula de hoje era isso! Vamos seguir agora para a parte final das nossas aulas de finanças pessoais, onde vou trazer como você pode fazer compras de forma mais inteligente.


Até a próxima aula!




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