Finanças Pessoais: Despesas Parte 2/2 - Enxugue o chão pt.5
- Felipe Picanço
- 9 de set.
- 7 min de leitura
Vamos seguir agora para a parte 2 do nosso post sobre as despesas.
Na nossa aula anterior, fizemos uma simulação dos primeiros meses do ano, criando categorias e itens para nossas despesas. Isso nos permitiu visualizar, de fato, o que acontece com nossa vida financeira quando a colocamos em uma planilha. É como olhar no espelho e ver nitidamente nosso comportamento de consumo. Ao final da primeira aula, criamos um gráfico, para que pudéssemos enxergar as fatias do nosso orçamento. O objetivo era que as maiores fatias fossem ocupadas por despesas essenciais, como moradia, saúde e alimentação. Se, por acaso, você percebeu que seus maiores gastos eram com transporte ou lazer e viagens, e você não está ganhando milhões, talvez seja um bom momento para reavaliar seu perfil de consumo.
Para seguir com a nossa simulação, preenchi os meses de forma não linear, colocando alguns picos de receita e despesa para simular a vida real. Por exemplo, no Mês 7, adicionei R$300 de receita de empreendedorismo. No Mês 9, mais R$300, e no Mês 12, que é um mês de festas, um acréscimo ainda maior, como se tivéssemos vendido bastante nossos produtos ou serviços. Também incluí acréscimos nos Meses 6 e 7, como uma participação nos lucros da empresa. É importante notar que não estamos simulando 13º salário ou férias, mantendo a simulação mais focada nas variações do dia a dia.
O que eu quero trazer neste segundo post é que essa planilha, além de nos permitir ver o mês atual e analisar o passado, é fantástica para projetar os gastos futuros. Como fazer isso? Se você está no Mês 6, por exemplo, pode projetar os Meses 7, 8, 9, 10, 11 e 12.
Uma ótima forma de fazer essa projeção é buscando informações nas faturas do seu cartão de crédito. A maioria delas mostra os itens parcelados. Se você comprou algo de R$1.000 e parcelou em 10 vezes, terá 10 parcelas de R$100. Digamos que você ainda tenha 5 parcelas de R$100 de uma compra de manutenção, você pode inserir isso na linha de "manutenção" na sua planilha para os próximos cinco meses. Mesmo que o restante da linha do Mês 12 esteja vazia, você já sabe que terá um gasto de R$100 naquela categoria.
Sua receita também pode ser projetada. Se você trabalha com carteira assinada, sua receita profissional é mais previsível, digamos, R$6.000, além de possíveis acréscimos de participação de lucros. As receitas de empreendedorismo são mais variáveis, então, pode-se deixar um valor estimado ou zero. Para as despesas, algumas são mais previsíveis que outras. Você sabe que sua psicóloga tira férias em dezembro, então, em vez de duas consultas, terá apenas uma. O seguro do carro e do celular são fixos, então já podem ser projetados. Ao fazer isso, você verá que o saldo que antes era R$7.000, por exemplo, agora está em R$6.550 – e ele continuará mudando, claro, mas já é um ponto de partida interessante.
Mas e as contas mais variáveis, como luz, telefone, internet, gás? É difícil projetar com exatidão. Por exemplo, se nos últimos três meses você pagou R$112, R$172 e R$140 de luz. Uma forma de projetar o Mês 12 é fazer a média desses últimos três meses. No Excel, você calcula a média e obtém, por exemplo, R$141 para a conta de luz. Isso não é uma medida de precisão absoluta, mas é melhor ter uma estimativa do que nenhum valor, que pode variar de 0 a 500.
O que eu recomendo? Para itens com previsibilidade maior, como a conta de celular (que varia de R$70 para R$65 ou R$72 dependendo do consumo), usar a média dos últimos três meses é suficiente. Já para contas com maior variabilidade, como supermercado (que pode ir de R$900 para R$1.300 em diferentes meses), bares e restaurantes, ou lazer (que é mais sazonal), você pode usar a média dos últimos seis meses. Por exemplo, se em alimentação/mercado você usou a média dos últimos seis meses, mesmo com gastos como R$900, R$1.300, R$1.500 ou R$950, a média calculada na planilha pode ser de R$1.108 por mês. Essa é uma das ferramentas que mais uso em minhas previsões, especialmente para gastos com insumos e serviços que dependem da demanda. Assim, consigo mapear o impacto desses gastos nos próximos meses.
Vamos revisar rapidamente nossa evolução no ano:
No primeiro mês, tivemos um saldo negativo de R$200.
No segundo mês, com R$38 de saldo positivo, nosso acumulado ainda estava negativo em R$162.
No terceiro mês, com um saldo positivo de R$138, nosso acumulado no ano passou para -R$24 (ainda no vermelho, mas melhorando).
No Mês 4, um imprevisto com manutenção gerou R$562 negativos no mês, e o acumulado anual foi para -R$586.
No Mês 5, ao perceber o problema, agimos: aumentamos nossa receita em R$500 com empreendedorismo e economizamos R$500 na moradia (dividindo o aluguel, por exemplo). Isso gerou um saldo de R$1.258 no mês e nos colocou no positivo no acumulado anual com R$672.
No Mês 6, continuamos evoluindo, chegando a acumular R$1.200 no ano. Isso já seria suficiente para cobrir dívidas anteriores e talvez até os juros.
Seguindo essa evolução, chegamos ao final do ano com R$4.107 poupados.
Podemos ver na planilha que nem todo mês poupamos o mesmo valor. Mas, na média, conseguimos poupar R$342 por mês. Se sua despesa média mensal foi de R$5.962, isso significa que conseguimos poupar 5% da nossa renda por mês. É o suficiente? Isso é o que vamos descobrir mais adiante, quando projetarmos nossos sonhos e o dinheiro que precisamos para realizá-los.
Outra ótica interessante é a tabela de custos fixos e variáveis que você pode criar na planilha para um mês específico. Por exemplo, vamos supor que sua receita é de R$3.000.
Custos Fixos: Você lista os valores fixos: seguro do celular (R$50), conta do celular (E$70), academia (R$150), psicóloga (R$400), e total de streams (R$100). O total dos seus custos fixos seria R$770.
Custos Variáveis: Aqui você anota os gastos variáveis: uma compra no Mercado Livre (R$100), um presente (R$100), uma doação (R$50). O total dos seus custos variáveis seria R$250.
Seu Custo Total mensal é a soma dos fixos e variáveis: R$770 + R$250 = R$1.020.
Agora, como saber quanto de custos variáveis você pode adicionar sem comprometer? Se sua meta de aporte (o que você quer guardar) é de R$500 por mês, o saldo para consumo que você terá será sua receita (R$3.000), menos os custos já previstos (R$1.020), e menos a meta de aporte (R$500). Isso deixa você com R$1.480 para gastar. A mentalidade aqui é que você não espera o dinheiro sobrar para investir; você já separa o R$500 para investimentos, como se fosse uma conta obrigatória que você tem com você mesmo.
Essa é uma simulação muito útil para adicionar gastos variáveis e ver o impacto. Se você tem R$1.480 de saldo para consumo e gasta R$35 do Uber para ir e voltar de um aniversário e R$130 na conta do bar, são R$165. Você ainda teria R$1.315. Mas e se seu saldo para consumo fosse menor, digamos R$480? Aí você veria que R$165 já seria um valor significativo. Essa tabela ajuda a estimar as consequências das suas escolhas. Se uma compra parcelada reduzir seu saldo para consumo em R$200 por mês, vale a pena? Isso vai impactar seu investimento? Essa visualização traz muita previsibilidade para sua vida financeira.
Essa planilha nos permite determinar nosso perfil de consumo passado, projetar os meses futuros e definir um percentual de poupança mensal. Se antes, a média era R$342 de forma aleatória, agora podemos determinar que queremos poupar R$500 por mês. Isso faz com que nosso percentual de renda poupada salte de 5% para quase 8%! São pequenas mudanças que geram impactos significativos no longo prazo.
Então, essa foi a construção da nossa planilha. Começar pela despesa é fundamental, pois é a parte mais relevante e imprevisível do nosso orçamento. Espero que vocês tenham percebido a necessidade e os benefícios de ter essa ferramenta.
Para resumir as duas aulas sobre despesas, gostaria de reforçar alguns pontos:
O início será trabalhoso: Construir a planilha exige esforço, mas você estará investindo na sua saúde financeira e na solução de problemas.
Disciplina para anotar: Uma vez criada a planilha, valorize seu trabalho e tenha disciplina para alimentá-la. Tenho o hábito de tirar fotos de comprovantes de compra para me lembrar do contexto dos gastos e classificá-los corretamente, já que algumas faturas vêm de forma genérica (ex: "Amazon" sem detalhes).
Organize os gastos para clareza: O gráfico de pizza que criamos oferece uma foto clara do seu perfil de consumo. Você pode replicar essa análise para cada mês ou para o ano inteiro. Isso ajuda a identificar se categorias como lazer estão comendo uma fatia grande demais do seu orçamento.
Autocrítica e questionamento: A planilha permite que você avalie a evolução do seu consumo. Se você teve um pico de gastos em uma categoria incomum, a planilha vai mostrar, e isso te leva a refletir se aquele gasto era realmente necessário. Por exemplo, se você gastou R$1.000 no mercado (o esperado) e mais R$300 em delivery, é hora de questionar suas decisões.
Estime as consequências das escolhas: A tabela de custos fixos e variáveis permite que você veja o impacto de novas despesas. Se adicionar um gasto, ele reduz seu saldo para consumo? Afeta sua meta de investimento? Isso te ajuda a tomar decisões mais conscientes.
Estime cenários extremos: A planilha também pode ser usada para simular o impacto de uma perda inesperada de renda ou de um grande recebimento, preparando você para diferentes situações.
Periodicidade de controle: O ideal é fazer o controle mensal. Mas se suas finanças estiverem muito descontroladas, tente aumentar a frequência para quinzenal, por exemplo. Um controle mais frequente aumenta sua capacidade de gerenciar os gastos.
Compartilhe com a família: Chame seu parceiro(a) ou as pessoas com quem você divide as despesas para montar a planilha juntos. Essa conversa aberta e o acordo mútuo sobre os gastos (ex: se vão para um apartamento maior, terão que reduzir gastos com restaurante) tornam o planejamento mais realista e justo.
Esses foram os pontos que queria abordar para fecharmos nossa segunda aula de despesas. Espero ter plantado em vocês a sementinha da importância dessa ferramenta. Agora, precisamos pegar essa planilha e criar parâmetros para saber se estamos no caminho certo mês a mês. Vamos criar métricas e indicadores para avaliar nosso desempenho financeiro.
Por hoje era isso e agora temos duas aulas de despesas fechadas. Vamos caminhar agora para a aula de métricas. Até o próximo post.



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