Finanças Pessoais: Erros que você deve minimizar pt.2
- Felipe Picanço
- 8 de set.
- 9 min de leitura
Na nossa última conversa, refletimos sobre se o dinheiro realmente traz felicidade. A principal lição que tiramos é que o dinheiro precisa ter um propósito em nossa vida. Ele não deve ser um fim em si mesmo, como o Tio Patinhas, que só quer nadar em moedas. O dinheiro que acumulamos deve servir para algo, para realizar nossos sonhos e objetivos ao longo da vida.
E para hoje, quero trazer alguns conceitos que muitas vezes passam despercebidos no nosso dia a dia financeiro. Pode ser que, de primeira, eles não venham à mente, mas tenho certeza que, lá no fundo, eles já fazem parte do seu jeito de lidar com o dinheiro. O que vamos fazer é trazer esses pontos à tona para que você os identifique na hora de tomar uma decisão financeira. Vamos falar um pouco sobre alguns deslizes que cometemos com nossas finanças.
É importante deixar claro que a ideia não é eliminar esses erros por completo. Errar faz parte da jornada financeira e não há como zerar essa possibilidade. Nosso foco é minimizar esses deslizes. Vou apresentá-los para que, quando eles surgirem, você esteja atento. É como acender um alerta vermelho. Seu subconsciente vai te sinalizar que você já ouviu falar sobre aquilo e que é hora de agir. Quanto mais conhecimento a gente absorve, mais aguçamos nossa intuição para que, ao se deparar com uma situação financeira desafiadora, a gente consiga despertar e dizer: "Sei o que está acontecendo e sei como lidar com isso”.
Quando falo de erros, pode ser algo como ter calculado mal o orçamento do mês, subestimando uma despesa que acabou sendo maior do que o esperado e gerou um aperto. Ou, quem sabe, você usou um dinheiro esperando que outro fosse entrar em breve, mas ele demorou um pouco mais e você ficou descoberto por alguns dias. Esse é um erro comum de "descasamento de caixa". Pode ser também um erro por falta de conhecimento, como ao assumir um empréstimo ou financiamento e não perceber uma taxa embutida que faz uma grande diferença no custo final. Outra situação pode ser um engano operacional ao comprar uma ação ou um fundo imobiliário, por desconhecimento das regras de tributação na venda, e esquecer de pagar o imposto.
Enfim, são muitos os deslizes, mas uma boa parte deles pode ser evitada com conhecimento. Outros, vamos apenas minimizar, porque eles vão acontecer. É importante ter essa consciência para não se cobrar demais por algo que é natural do ser humano, especialmente nas finanças, onde tendemos a ver o "retrato" da situação depois que ela acontece.
Com isso em mente, vou compartilhar algumas anotações importantes. Acredito que esta conversa será excelente para fixar esses pontos. Se você anotar o conteúdo, a mensagem entrará ainda mais fácil em sua mente. Depois de ouvir, ver e anotar, e tentar aplicar no seu dia a dia, prestando atenção a esses detalhes, já será um grande passo. Você vai perceber que pequenas mudanças farão uma enorme diferença.
Vamos listar quatro deslizes principais que, provavelmente, enquanto você estiver lendo, farão você se lembrar de alguma situação que já viveu.
Primeiro, é crucial que você não pense que, para ficar rico, se aposentar cedo ou construir sua independência financeira, é preciso eliminar todos esses erros. Eles vão acontecer tranquilamente e não serão um impeditivo para que você alcance seus objetivos. Então, que erros são esses?
Comecemos pelo primeiro: desprezar pequenos valores. Tem uma frase que diz, de forma geral, que é difícil um marinheiro, no comando de seu navio, não enxergar uma pedra gigantesca no caminho – a menos que seja algo como o Titanic. Mas, muitas vezes, o que afunda o navio não é uma grande colisão, e sim o acúmulo de pequenos impactos causados por pedras menores, que vão abrindo rombos até que a embarcação sucumba.
O que isso significa para nós? Pequenos gastos também têm um grande impacto em nossa jornada financeira. Precisamos ter muito cuidado com os pequenos valores em nosso orçamento. Não podemos menosprezá-los. Um dos primeiros exercícios que faremos é montar nosso orçamento, dividindo-o em receitas e despesas. Dentro das despesas, além das fixas e mensais, é importante separar o que são "despesas pequenas" e "despesas grandes".
Nas pequenas despesas, podemos incluir aquela compra pontual no hortifruti, as diversas assinaturas de plataformas de streaming (R$21,90 daqui, R$25 dali, R$30, R$40...). São pequenas quantias que, psicologicamente, tendemos a negligenciar mais do que se fosse um valor maior. Quando abrimos a fatura do cartão e vemos um gasto de R$150 ou R$200 na academia, é fácil de identificar e saber de onde veio. Mas imagine a dificuldade de controlar um mês inteiro de gastos pequenos, como corridas de Uber e 99. É bem mais trabalhoso analisar cada valor de R$9, R$12, R$11. Essa percepção inicial é difícil, mas é aí que mora o perigo. Precisamos detalhar essas pequenas contas no orçamento para sempre enxergá-las.
Nas finanças, assim como na formação de um hábito, subestimamos muito o poder de uma pequena mudança para nos levar a um resultado positivo. Da mesma forma, ignoramos que uma pequena despesa, quando somada a várias outras, pode se tornar um grande rombo no nosso orçamento sem que a gente perceba.
Essa desatenção aos pequenos valores acontecia muito, e talvez com menos frequência hoje, porque diminuímos o uso de dinheiro físico. Mas pense: é muito mais fácil gastar dinheiro que temos na carteira quando ele está em notas de pequeno valor. Se você tiver uma nota de R$100 na carteira e for almoçar no centro do Rio, dificilmente comprará uma pipoca ou um saco de amendoim com ela. Agora, se você trocar essa mesma nota de R$100 por cinco notas de R$20, ou por notas de R$2, seu padrão de consumo muda drasticamente! Você usará as notas de R$2 com muito mais frequência do que a única nota de R$100. É incrível como nosso comportamento financeiro pode ser tão diferente se o valor é o mesmo e só muda a quantidade de notas.
Por muito tempo, o exemplo do "cafezinho" foi usado para ilustrar a importância de cortar pequenos gastos. Mas não se trata de sair cortando tudo que te dá satisfação, como um café depois do almoço. O ponto é que existem muitos pequenos consumos diários que são gerados por impulso, por uma propaganda, por algo que realmente não precisávamos, mas acabamos comprando. O problema não está no valor — se o café custa R$1 ou o amendoim R$2. Precisamos ficar atentos à frequência com que esses gastos ocorrem.
O segundo ponto, que eu chamo de descaso em negociar nossas compras, é um comportamento que muitas vezes negligenciamos. Hoje em dia, pesquisar preços online é fácil, podemos comparar quatro empresas para o mesmo item e decidir onde comprar. Mas quando a compra é física, em uma loja, vale a pena negociar. O preço na etiqueta ou o que o vendedor informa geralmente já inclui uma margem para negociação, sem que a loja ou o vendedor percam seu lucro. Com certeza, se o vendedor tiver flexibilidade, você pode conseguir um bom desconto.
Eu confesso que tenho certa dificuldade com isso, não só pela internet. Dependendo do produto, podemos estar precificando o trabalho de uma pessoa, e pedir um desconto pode soar grosseiro. Se alguém oferece um serviço por R$200 e você pede R$150 ou R$110, pode parecer indelicado. Mas, quando você está lidando com uma grande loja, comprando em grande volume ou tentando comprar no atacado, são excelentes oportunidades para negociar e economizar.
Aqui vão algumas dicas importantes para suas próximas compras:
Se for a uma loja física, como um supermercado ou loja de materiais de construção, prepare a sua lista de compras e leve-a consigo. Não é para sair da loja com tudo marcado, mas é um alerta se você estiver saindo com muitos itens que nem estavam na lista. A questão não é eliminar o consumo; se algo em promoção vale a pena e está nos seus planos, leve. Mas lembre-se: não é o evento em si, e sim a frequência com que ele acontece.
Negocie as formas de pagamento. Sempre vale a pena calcular se é melhor pagar à vista, em uma vez no crédito, parcelado ou no Pix. Observe como o desconto é aplicado em cada forma de pagamento. Às vezes, pagar no crédito será mais vantajoso, outras vezes, o desconto à vista compensa mais.
Ao comprar roupas ou eletrodomésticos, evite demonstrar muita euforia ao vendedor por ter encontrado o produto. Ele perceberá seu interesse e tentará te empurrar o item pelo preço cheio. Há maneiras sutis de pechinchar e barganhar, comunicando sua intenção sem ser óbvio, para que você, como consumidor, consiga uma condição mais vantajosa. Em lojas grandes, perguntar "Tem desconto?" ou "É só esse valor mesmo?" costuma dar margem para negociação.
O terceiro ponto de atenção é sobre as compras por impulso, ou impulsionadas, algo que vemos muito nas redes sociais. Como eu disse, não é para eliminar o erro, mas para minimizá-lo. É claro que já passei pela situação de comprar algo só porque apareceu na minha rede social, mesmo sem ter pensado em comprar aquilo. Camisas de time de futebol, por exemplo, vivem aparecendo para mim. Tenho que me segurar para não comprar, porque o algoritmo sabe o que procuro e o que gosto, e vai me mostrar isso com cada vez mais frequência. Você precisa controlar essa impulsividade o tempo todo. Em algum momento, quando estiver mais frágil emocional ou mentalmente, será uma ocasião perfeita para você consumir.
O problema não é que apareça na sua rede social, mas sim comprar toda vez que aparecer. Já aconteceu de estar numa sexta-feira à tarde, sem planos para o jantar, e surgir uma promoção de pizza "dois por um". Você compra, e depois, comendo, pensa: "Eu nem queria pizza hoje!". Se acontece uma vez, tudo bem. Mas se isso se repete com frequência — vendo uma propaganda da Shopee, Amazon, Mercado Livre e comprando — torna-se um desafio. É muito difícil viver em um mundo onde o impulso de consumo bate na nossa tela o tempo inteiro.
Uma dica interessante pode ser desativar as notificações desses aplicativos de consumo. O objetivo deles é justamente estimular o consumo. Eles vão tentar movimentar a sua conta o tempo todo. Para minhas atividades pessoais e empreendedoras, uso bastante o Mercado Livre e a Amazon para comprar insumos. Se eu deixar todas as notificações ligadas, estarei "ferrado", compraria tudo o tempo inteiro. Eles sabem que comprei uma moldura, então agora querem me oferecer uma estante, depois um vaso para o lado do quadro na estante, uma plantinha... Há sempre um mecanismo de impulsionamento que eles conhecem bem.
Eles conhecem nossa fragilidade, nossa impulsividade. Eu encaro isso como uma "guerra intelectual" que estamos vivendo. Nós somos os consumidores, os usuários dessas redes sociais. O que eles ganham é com nosso tempo de uso; quanto mais tempo passamos no aplicativo, melhor para eles. E quando usamos esses aplicativos, estamos lutando contra um excesso de informação, um estímulo que libera hormônios que nos fazem sentir felizes e satisfeitos. Mas isso também pode gerar ansiedade e estresse. Ficar imerso nesse ambiente pode, em algum momento, gerar uma fragilidade que você tentará compensar com consumo. É uma guerra, nós versus profissionais de neurociência que trabalham nessas empresas para nos prender o máximo de tempo possível. É a nossa guerra de tempo e atenção contra eles.
Além dos conteúdos, existem as publicações impulsionadas de consumo, e é aí que ficamos realmente expostos. Se você verificar o tempo de uso do seu celular, verá quanto tempo passa em cada aplicativo, e o tempo exato em que você esteve exposto a um conteúdo que talvez nem quisesse. Eu, por exemplo, sigo poucas pessoas no meu Instagram pessoal. Quando o feed mostra que já vi todo o conteúdo dos últimos três dias, ele começa a mostrar coisas que nem me interessam, ou que gosto, mas não preciso naquele momento. Mas ele sempre arruma um jeito de colocar na minha frente. Essa é uma luta constante. Não deixe que o estímulo das redes sociais e do celular se reverta sempre em consumo. É algo que devemos ter muito cuidado.
Por fim, para encerrar essa série de conversas e insights de hoje, o último ponto que quero comentar é não saber onde queremos chegar. Cito uma frase: "A maioria das pessoas superestima o que pode fazer em um ano e subestima o que pode fazer em uma década". O conceito que quero trazer é que precisamos saber quais são as pequenas coisas que fazemos hoje para que, daqui a dez anos (como diz a frase), possamos colher essas pequenas sementes que plantamos e alcançar algo muito bom, como a independência financeira.
Quando montarmos nosso planejamento, será muito importante definirmos nossos objetivos. É aposentar cedo? Com qual renda mensal? Em quanto tempo? Já falamos sobre isso antes. Talvez seu objetivo seja, daqui a vinte anos, morar em um condomínio fechado com uma piscina e um cachorro, porque você valoriza a segurança. Você precisa saber o valor desse sonho. Custa um milhão e duzentos? Ok, você tem seu objetivo. Mas só ter o objetivo não basta. Você precisa saber o que está fazendo para chegar a esse um milhão e duzentos, para um dia comprar essa casa e ter dinheiro suficiente para mantê-la. Você vai trabalhar mais? Vai empreender? Ou vai depender do INSS?
A dica é: planeje primeiro para conseguir realizar seu objetivo e, segundo, para não depender de mais ninguém além de você mesmo para bancar esse sonho. Alguém terá que fazer esse plano, alguém terá que trabalhar para que seus objetivos financeiros sejam cumpridos. Por isso, preze por um caminho em que isso dependa apenas de você, e não de um familiar, um filho, um tio ou apenas do governo lá na frente.
Então, pessoal, esses foram os pontos principais que quis trazer. Não é uma aula conclusiva que bate o martelo sobre "os quatro, cinco ou dez erros". Não quero soar alarmista. O conhecimento sobre finanças é muito fluido. Pode ser que em breve identifiquemos mais erros ou impactos em nosso comportamento que influenciam nossas finanças. O que posso fazer é atualizar esses insights. O importante, neste momento inicial, são esses pontos. Leve esses conceitos principais com você, pois algo já mudará em seu dia a dia financeiro. Por exemplo, falar sobre posts impulsionados nas redes sociais: há alguns anos, eu nem mencionaria isso; livros antigos de finanças nem comentavam. Mas agora, é algo real. Daqui a um ano, o cenário pode mudar novamente, e falaremos de algo novo, porque sempre haverá quem tente estimular nosso consumo.
E eu quero estar no lado oposto dessa dinâmica. Quero mostrar como ter um consumo inteligente, como você pode construir sua independência financeira e estimular sua poupança e seus investimentos, e não apenas o consumo.


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