Finanças Pessoais: Autônomos e receitas incertas: Como lidar? pt.6
- Felipe Picanço
- 10 de set.
- 7 min de leitura
Olá, pessoal! Tudo bem?
No post de hoje, vamos mergulhar no mundo das receitas, dando sequência às nossas aulas onde estamos construindo nosso orçamento e organizando nossas finanças pessoais. Já falamos bastante sobre as despesas, e agora é a vez de entender como nossas fontes de renda se encaixam nesse cenário.
Assim como fizemos com as despesas, vou guiar vocês passo a passo na construção de um exemplo na planilha. Mas desta vez, quero trazer uma situação diferente da aula passada. Lembram que na última aula montamos um orçamento com o exemplo de uma pessoa que tem uma receita fixa, algo bem previsível? Ou seja, alguém assalariado, que recebe um contracheque e sabe que todo mês, a menos que algo grave aconteça, terá aquele valor – como os R$6.000 que usamos de exemplo. Essa previsibilidade facilita muito o planejamento.
Mas qual vai ser o principal diferencial deste nosso encontro? No post de agora, quero trazer exemplos de pessoas que têm receitas que não são previsíveis. Isso vai abraçar a realidade de muitos de vocês que estão assistindo. Estou falando de profissionais como advogados, que talvez não dependam apenas do salário de um escritório, mas também tenham uma renda extra com ações judiciais por fora. Ou um vendedor que ganha por comissão, um personal trainer com uma agenda variada, ou alguém que trabalha com publicidade e propaganda, cuja demanda pode flutuar bastante, dependendo de campanhas ou festivais. Enfim, qualquer pessoa que venda um produto ou ofereça um serviço e cuja receita varie mês a mês, sem um valor fixo garantido.
Então, vou começar a montar nossa planilha aqui, e a gente vai construindo isso juntos, passo a passo, ok?
A ideia é manter o mesmo nível de despesa que já entendemos, talvez com pequenas modificações para que o exemplo seja realista, mas sem cair nos extremos – nem alguém afundado em dívidas, nem alguém que se tornou milionário da noite para o dia. Quero um exemplo que mostre a realidade da maioria das pessoas.
Como vamos exemplificar aqui o conceito de uma pessoa com receita de baixa previsibilidade? Basicamente, é alguém cuja renda varia muito. Em um mês, pode ser R$ 2.000, no outro R$ 2.500, depois R$ 3.200, um pico de R$ 4.500, e de repente, no mês seguinte, volta para R$ 2.000. Essas flutuações, com altas consecutivas e quedas bruscas, podem gerar um comportamento financeiro muito prejudicial.
O que quero dizer com isso? Quando trabalhamos apenas com vendas, comissão ou prestação de serviços, podemos ter meses muito bons. Por exemplo, você pode ter quatro meses excelentes, vendendo muito bem seu produto ou consultoria, e faturar R$ 2.000, R$ 2.500, R$ 3.200 e R$ 4.500 nos primeiros meses. Nesse cenário de alta consecutiva, você pode cair no erro de estabelecer seu limite de gastos com base na receita mais alta. Você pensa: “Já que recebi R$ 4.500 em abril, então também vou receber uns R$ 4.500 em maio”, e acaba gastando, digamos, R$ 4.300. O problema é que, se acontecer um imprevisto – você fica doente, há um problema de saúde que te impede de trabalhar como antes, ou ocorre uma situação externa, como uma greve dos correios, uma enchente que afeta sua cadeia de suprimentos, uma pandemia que diminui a demanda – sua receita pode cair drasticamente. Se no Mês 5 sua receita for para R$ 2.000, você já estará no vermelho, com um rombo de R$ 2.300! Isso pode levar a uma dívida que você arrastará para o mês seguinte, pagando juros de empréstimos ou cheque especial, e isso pode virar uma bola de neve.
Para o nosso exemplo, vou apagar os valores que tínhamos nas linhas de receita e preencher a linha de Receitas Profissionais com uma simulação para um ano de um autônomo, como um vendedor ou prestador de serviço.
No Mês 1, ele conseguiu R$ 2.000.
No Mês 2, trabalhou bem e subiu para R$ 2.500.
No Mês 3, avançou mais, chegando a R$ 3.200.
No Mês 4, teve um mês excelente, atingindo R$ 4.500.
No Mês 5, ficou doente e a receita caiu para R$ 2.000.
No Mês 6, conseguiu uma recuperada, para R$ 3.000.
No Mês 7, um problema na entrega do produto fez a receita cair para R$ 1.500.
No Mês 8, recuperou-se para R$ 3.000.
No Mês 9, subiu um pouco mais, para R$ 3.200.
No Mês 10, teve uma queda para R$ 2.000.
No Mês 11, conseguiu R$ 4.000.
E no Mês 12, com o final de ano e festas, um pico de R$ 6.000.
Este é o nosso exemplo para 12 meses, onde podemos observar diversas altas e baixas.
Para visualizar isso melhor, podemos selecionar os dados da nossa linha de Receitas Profissionais e criar um gráfico de linhas no Excel. Esse gráfico de "Receitas por Mês" nos ajudará a entender as flutuações e a planejar.
Uma pessoa com salário fixo, que tem certeza de quanto vai receber, olha o contracheque e sabe seu valor líquido. Se ela recebe R$ 4.000 líquidos, sabe que pode gastar R$ 3.800 e poupar R$ 200 para investir, por exemplo. Mas para a pessoa autônoma, empreendedora ou vendedora, qual é o limite de gastos? É R$ 2.000, R$ 4.000, R$ 6.000? É isso que vamos determinar agora.
A primeira coisa a fazer é identificar sua renda mínima no pior cenário, a renda máxima no seu melhor mês de venda, e sua receita média com base nesses meses.
Vamos adicionar essas informações à nossa planilha, talvez em células ao lado do nosso gráfico:
Nossa Receita Mínima: Para encontrar o menor valor entre os 12 meses, podemos usar a função MÍNIMO do Excel. Ao aplicar a fórmula na nossa linha de Receitas Profissionais, veremos que a Receita Mínima foi de R$ 1.500, referente ao Mês 7.
Nossa Receita Máxima: Da mesma forma, usamos a função MÁXIMO do Excel. Aplicando-a na mesma linha, encontraremos a Receita Máxima de R$ 6.000, que ocorreu no Mês 12.
Nossa Receita Média: Agora, para a média, usamos a função MÉDIA do Excel. O resultado será de R$ 3.000.
Então, temos: mínimo de R$ 1.500, máximo de R$ 6.000, e média de R$ 3.000. O perigo mora aqui: se você estipular seu nível de gasto com base na sua receita máxima, ou na expectativa de que vai repetir os meses de pico, um único mês abaixo do esperado (pior ainda, abaixo da sua receita média) vai gerar um prejuízo gigantesco.
Por isso, você não pode basear seu padrão de consumo na sua receita máxima. O ideal é fazer isso com base na sua receita média, no mínimo. Mas podemos avançar nessa análise, delimitando seu nível de despesas em três tipos de gastos, que vamos chamar de: gastos burocráticos, gastos básicos e de investimento, e gastos extras (luxo e lazer).
Gastos Burocráticos: São a estrutura da sua vida, o que você tem que pagar todo santo mês e que não pode deixar de fora: moradia, transporte essencial, plano de saúde, academia, contas fixas como luz, água, gás e telefone. Seus gastos burocráticos não podem ultrapassar sua Receita Mínima. No nosso exemplo, onde a receita mínima é de R$ 1.500, seus gastos burocráticos precisam ser iguais ou menores que esse valor. Se eles forem R$ 1.800, por exemplo, você já terá um rombo de R$ 300 no seu pior mês.
Gastos Básicos e de Investimento: Esses devem estar dentro da sua Receita Média.
Depois de cobrir seus gastos burocráticos (que não podem exceder os R$ 1.500 da receita mínima), a diferença entre sua receita média (R$ 3.000) e os gastos burocráticos vai te dar o limite para esses gastos. No nosso exemplo, se você tem R$ 1.500 de gastos burocráticos, sobram R$ 1.500 para gastos básicos (como terapia, um plano de clube, livros, material de estudo) e para seus investimentos mensais. Esses gastos contribuem para sua qualidade de vida e futuro.
Gastos Extras (Luxo e Lazer): Esses gastos são para se permitir um consumo ou lazer quando você recebe uma receita superior àquela que esperava, ou seja, acima da sua Receita Média. Se você fechou um contrato que não esperava naquele mês e sua renda subiu, pegue esse valor a mais, invista uma parte e use outra para se presentear. É importante se recompensar na jornada financeira, pois assim funciona a mente humana.
Agora, transportando isso para o nosso gráfico. Podemos adicionar três linhas de referência no nosso gráfico de receitas: uma linha para a Receita Mínima (R$ 1.500), uma para a Receita Máxima (R$ 6.000) e outra para a Receita Média (R$ 3.000).
A linha da Receita Mínima (R$ 1.500) será o limiar dos seus gastos burocráticos. Você tem que garantir que a parte essencial e fixa das suas despesas esteja sempre abaixo dessa linha.
A linha da Receita Média (R$ 3.000) é onde você deve se basear para cobrir seus gastos burocráticos E seus gastos básicos e de investimento.
Os gastos extras com luxo e lazer só devem ocorrer quando sua receita mensal ultrapassa a linha da Receita Média. Nesses meses de pico, você pode se dar um presente, desde que o essencial e o investimento já estejam garantidos.
O que tiramos de conclusão desse gráfico é a importância de conhecer a sazonalidade do seu negócio. Você precisa identificar os meses de pico (como o Mês 4 e o Mês 12 no nosso exemplo) e os meses de baixa (como o início do ano e o Mês 7). Isso te permite antecipar, aumentar sua previsibilidade e enxugar gastos nos momentos certos. Para quem tem renda variável, é ainda mais crucial não deixar que seu custo fixo seja tão alto a ponto de um mês fora da curva comprometer diversos outros meses da sua vida.
É óbvio, mas vale reforçar: você tem que garantir seu bem-estar. Se você trabalha tanto, sua receita média tem que ser capaz de garantir seu bem-estar. Não há como negociar isso. Se nosso plano é construir sua independência financeira e ter tranquilidade no futuro, o bem-estar é fundamental.
Chegando ao fim dessa aula sobre receitas, quero reforçar que é muito importante registrar todas essas dicas na sua planilha. A parte principal da aula é você enxergar sua receita mínima, máxima e média e fazer o vínculo disso com seus gastos, para saber exatamente o quanto pode gastar.
Mais uma vez, como falei na aula passada sobre a importância de determinar suas despesas, reitero agora a importância de você, que é trabalhador autônomo, tentar fazer uma previsibilidade de sua receita. Você não vai acertar sempre, é impossível prever 12 ou 24 meses com total exatidão, mas você faz uma previsão e mantém sua despesa um degrau abaixo da sua receita. Nosso objetivo é de longo prazo: construir a independência financeira. E o que vamos construindo, degrau a degrau, é essa semente de tranquilidade e calmaria ao lidar com suas finanças. O principal é sentir que você tem o controle da sua vida financeira.
Se precisar, leia e releia, e faça a informação ser assimilada. Qualquer coisa, estou aqui!




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