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Carta de Fevereiro de 2025

  • Foto do escritor: Felipe Picanço
    Felipe Picanço
  • 12 de abr.
  • 4 min de leitura

Caro leitor,


O mês de fevereiro trouxe diversos acontecimentos que reforçaram as expectativas para o ano de 2025: preocupações monetárias e fiscais, instabilidade nos ativos de riscos, desdobramentos de guerras comerciais, e ao fim de tudo: incertezas.


Nos EUA, o presidente Trump começa a acelerar a sua política de tributação, já que a aguardada agenda de tarifas começou a ser anunciada e algumas já foram impostas a países como o Canadá, o México e a China, gerando uma alta incerteza relacionada à política comercial, que impacta o sentimento e confiança dos agentes econômicos, fazendo com que alguns indicadores relacionados à incerteza de política econômica venha subindo de forma acentuada. 


Essa política de “toma lá, dá cá” nos tributos ainda está em seu início e trará muita instabilidade aos mercados, já que os reflexos de cada medida adotada, apesar de já estar fazendo preço nos ativos, ainda não é conclusiva em dados de inflação, custo de produção e arrecadação, mas com certeza terá reflexos. Por que? Primeiramente, nessa guerra tarifária, os EUA decidem cobrar 20% de quem também os cobra 20%, resolve cobrar 30% de quem não faz o que espera, 50% de quem é ameaça para a soberania comercial, e alguns países, como o Canadá, devolvem esses tributos em outra conta, gerando uma briga sem fim, que ao fim das contas, só prejudica a população. Segundo, o aumento dos tributos leva a um aumento dos preços, para que países ou empresas possam manter a sua operação rentável, e aumento de preços gera inflação e quem paga por isso é o consumidor. Também poderia ampliar essa análise e falar que o aumento da tarifa de energia pode aumentar os custos de produção e mexer em toda a cadeia de produção até chegar ao preço do consumidor final, mas vamos ficar somente na parte macro.


No campo monetário, quanto à inflação, o core PCE, a medida acompanhada pelo FED, continua em processo gradual de desaceleração, o que é um sinal positivo, mas que deve ser acompanhada de outros indicadores, como atividade econômica, que formam parte dos dados para tomada de decisão sobre corte ou manutenção de juros. Os membros do Comitê de Política Monetária têm enfatizado a necessidade de esperar para entender melhor os efeitos das políticas do novo governo. Depois do corte nos juros de dezembro de 2024, a sinalização é de pausa, que pode se prolongar enquanto continuarmos com uma economia resiliente e uma inflação acima da meta.


Outro fato importante é que na geopolítica, a nova administração americana deu sinais que pretende adotar uma postura de menor apoio a acordos estratégicos de longo prazo como a OTAN. Neste contexto, a União Europeia e em especial a Alemanha começam a fazer movimentos para flexibilizar suas regras fiscais para aumentar gastos em defesa e infraestrutura, já que os países da União Europeia possuem um limite percentual do PIB que pode ser gasto com essas contas. A expectativa de que novos recursos devam ser financiados por meio do aumento dos limites fiscais, gerou mau humor nas bolsas européias, que apesar da inflação controlada, já vem vivendo na tentativa de manter o crescimento do bloco, estimulado por ciclo monetário de redução de juros, mas que pode mudar a depender do estresse do mercado.


Assim, é importante ficar atento a alguns principais fatores: a implementação e os impactos da política tributária dos EUA, a movimentação sobre a flexibilização dos gastos da Europa em defesa, a atitude dos bancos centrais em relação a atividade econômica e a inflação e o uso da política monetária,e por fim, a atividade na China e possíveis impactos econômicos e comerciais.


Na China, os mercados vêm desempenhando bem até o momento, principalmente depois do evento DeepSeek. A bolsa de Hong Kong tem a melhor performance entre seus pares globais em fevereiro, com alta de 13,6%. É necessário acompanhar os impactos da guerra tributária nas contas chinesas, que pode impactar nos resultados do país e em seu crescimento econômico, que é a principal meta do governo, que já fez política monetária expansionista em 2024.


No Brasil, os dados de inflação indicam números acima da meta do Banco Central tanto para 2025 quanto para 2026. Nesse cenário, o COPOM precisa manter o ciclo de alta de juros, com as previsões de novos aumentos de um ponto percentual, para fazer com que a inflação retorne, pelo menos, abaixo de 4,5% ao ano. É possível, que uma contribuição para a desaceleração da inflação venha do cenário externo, com um enfraquecimento do dólar, que responde por boa parte de nossa inflação, caso as medidas fiscais atualmente em discussão na Europa sejam implementadas, favorecendo uma apreciação adicional do real. Por fim, embora a taxa de juros esteja se encaminhando para níveis restritivos, há uma preocupação do governo em sustentar o crescimento por meio de medidas, atuando em sentido contrário à política monetária, como mudanças no crédito consignado privado, liberação de recursos do FGTS e novos usos para o Fundo Social do Pré-Sal.


A incerteza no mercado brasileiro vem do seguinte questionamento: “quais são as outras medidas de impacto, igual ou pior as atuais, que podem sair da cartola do governo até 2026?”. O Brasil é um país que nos anos de eleição, eleva, em média, as suas despesas primárias, e ano que vem teremos eleição. O Brasil possui uma relação Dívida/PIB próxima a 75% e paga mais de R$1 trilhão de juros ao ano, onde chegaremos com a SELIC alta e juros da dívida maiores? O que deve fazer um Banco Central, que após mais um ano de inflação acima da meta, vê o IPCA desancorado para 2025/26 no Boletim FOCUS?


Por isso, temos que ficar atentos à trajetória da inflação e as suas expectativas, às discussões fiscais e os impactos no endividamento e à velocidade da desaceleração da atividade.


Assim, fechamos fevereiro com a Bolsa brasileira em queda de -2,64%, a bolsa americana, representada pelo S&P500, em queda de -1,42%, o dólar estável (-0,34%) a R$ 5,85 e elevação nos juros futuros de curto prazo maiores que a elevação que tiveram nos juros de longo prazo (NTN-B 2027 +0,65% versus NTN-B 2055 +0,09%)


Até a próxima,

Felipe Picanço, CGA


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