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Carta de Julho de 2025

  • Foto do escritor: Felipe Picanço
    Felipe Picanço
  • 12 de ago.
  • 5 min de leitura

Caro leitor,


O mês de julho foi um reflexo claro da complexa dinâmica que rege os mercados globais, na qual uma única decisão política pode gerar ondas de impacto em todo o planeta. A interação entre tensões geopolíticas, políticas monetárias e os fundamentos econômicos de cada país desenhou um cenário de contrastes, exigindo cautela e uma análise apurada para navegar entre os riscos e as oportunidades.


Estados Unidos

O cenário foi marcado por uma forte volatilidade, no qual a política e a economia andaram de mãos dadas. Uma única ação executiva (“canetada”) do Presidente Trump, por exemplo, gerou uma valorização abrupta do dólar de 2,47% em um único dia, um ganho que superou mais de dois meses de rendimento do CDI no Brasil. 


O grande tema continua sendo as tarifas. A dúvida que paira no mercado é sobre quem pagará essa conta. O Goldman Sachs Research previu que as empresas repassariam 70% desses custos aos consumidores, alimentando a inflação. Na prática, os preços vêm subindo menos que o esperado, e pesquisas têm indicado um repasse menor do que o temido. Ao mesmo tempo, acordos comerciais encaminhados com a União Europeia, o Japão e o Reino Unido devem diminuir consideravelmente a incerteza comercial nos próximos meses.


No campo da política monetária, o Federal Reserve (FED) decidiu manter a taxa básica de juros no intervalo de 4,25%-4,50%, adotando uma postura de "esperar para ver". O comunicado admitiu uma moderação na atividade econômica, mas o presidente Jerome Powell, em seu discurso, deixou claro que o Fed exigirá mais do que uma simples moderação para reiniciar o ciclo de cortes. A decisão não foi unânime, com dois votos dissidentes a favor de um corte de 0,25 ponto percentual. Powell também alertou para os riscos de enfraquecimento do mercado de trabalho, e os dados de julho pareceram confirmar seu receio: foram criadas apenas 73 mil vagas, com revisões negativas para maio (de 144 mil para 19 mil) e junho (de 147 mil para 14 mil). Esses números aumentaram a probabilidade do início dos cortes de juros já em setembro, em linha com as críticas do Presidente Trump, que cobra mais agilidade do Fed. A dinâmica da inflação, por sua vez, tem mostrado melhora gradual, com surpresas positivas em alimentação e bens industrializados, o que ajuda a reduzir as projeções para 2025 e 2026.


Apesar das tensões, o mercado de ações americano atingiu novos recordes. O S&P 500 fechou julho com alta de 2,17%, impulsionado por bons resultados corporativos que começaram a ser divulgados em 15 de julho. Outros índices também avançaram, como o Russell 2000 (+1,68%) e o Nasdaq (+3,70%). Desde o pior momento do ano, em 8 de abril, a recuperação tem sido expressiva, e, no ano, o  S&P 500 sobe 7,78%. Na renda fixa, a curva de juros das treasuries voltou a subir em todos os vencimentos, em um movimento de normalização.



Europa

Na Europa, o cenário é de maior moderação e cautela. Após um ano de cortes que levaram a taxa básica de juros de 4,00% para 2,00%, o Banco Central Europeu (BCE) decidiu interromper o ciclo de afrouxamento monetário. Essa pausa estratégica ocorre em um momento em que a atividade econômica na Zona do Euro se mostra mais contida, e a inflação encontra-se em um patamar próximo da meta estabelecida pela autoridade monetária. A decisão sinaliza que, por ora, a ordem é observar como a economia reage aos estímulos já concedidos antes de tomar os próximos passos.


O MSCI Europe, índice que representa empresas de médio e grande porte em 15 países de mercados desenvolvidos na Europa, caiu -1,85%, mas sobe 18,44% no ano.



China

A China apresentou uma performance econômica positiva, demonstrando resiliência em meio às incertezas globais. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,2% no segundo trimestre de 2025, superando as expectativas do mercado, que previam um crescimento menor. Embora ligeiramente inferior ao ritmo do primeiro trimestre, esse avanço foi impulsionado pela força do setor externo, com o aumento das vendas para o Sudeste Asiático e a Europa compensando a queda nas exportações para os EUA.


O principal destaque foi o setor industrial, que avançou 6,4% no acumulado do ano, superando a meta de 5% do PBoC (Banco Popular da China). A indústria se consolidou como o principal motor do crescimento em 2025, ajudando a contrabalançar a forte contração do setor imobiliário, que encolheu 11,2% no mesmo período. 


Além disso, o país anunciou planos ambiciosos, como a construção de uma hidrelétrica com custo aproximado de US$ 170 bilhões e a intenção de fechar fábricas siderúrgicas obsoletas para construir novas e mais eficientes. Naturalmente, esse crescimento robusto e as notícias sobre a indústria impactaram positivamente os preços das commodities em julho, beneficiando ações ligadas ao setor em todo o mundo.


O MSCI China, índice que representa as principais empresas chinesas, subiu 4,50% e sobe 20,71% no ano.



Brasil

O Brasil sentiu os efeitos combinados do cenário externo e dos desafios internos. A nossa moeda, o Real, sofreu com a piora da percepção de risco-país e com a recuperação do dólar no mercado internacional, desvalorizando-se 2,59% em julho. Esse movimento acompanhou a alta de 3,19% do DXY, índice que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas. A volatilidade recente parece ter sido mais influenciada por essa dinâmica global do que por fatores locais como pesquisas eleitorais ou sanções.


O principal ponto de atenção foi o impacto das tarifas americanas. A resposta inicial do governo foi comedida, sem retaliações imediatas. A confirmação de que aproximadamente 700 "itens de exceção" seriam poupados, incluindo produtos de alto valor agregado como aviões da Embraer, trouxe alívio. Cálculos indicam que cerca de 45% da nossa pauta exportadora para os EUA ficarão sujeitos a tarifas de apenas 10%, limitando o impacto na balança comercial e reduzindo a tarifa média "real" para 30%. Alguns modelos matemáticos de economistas sugerem que uma desvalorização de 5% do Real compensaria essa perda e que o impacto total na atividade econômica pode chegar a 0,4% do PIB.


O nosso índice de inflação, o IPCA. subiu 0,26% em julho, e o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu interromper o ciclo de alta dos juros, mantendo a Selic em 15,00%. A comunicação, no entanto, foi dura, confirmando a manutenção de uma política monetária "significativamente contracionista por período bastante prolongado". Embora a economia brasileira pareça resiliente, os sinais indicam que o "remédio" dos juros começou a surtir efeito, mas o espaço para cortes ainda é limitado, com a Selic devendo permanecer elevada até o início de 2026.


Os dados de capital externo mostraram um quadro misto. O fluxo de investidores estrangeiros na B3 acumula uma entrada de R$ 27 bilhões no ano. Um estudo do Morgan Stanley projeta que, se a alocação global para emergentes retornar à média histórica, o Brasil poderia receber até US$ 40 bilhões adicionais.  


Apesar do volume positivo no ano, a saída de capital em julho afetou a bolsa de valores.O mercado de ações (IBOV) foi afetado pelo risco-tarifário, fechando em baixa de -4,2%. Um comportamento semelhante foi observado nos índices de renda variável: o IDIV (dividendos) e o IFIX (fundos imobiliários) tiveram quedas mensais de -2,97% e -1,36%, respectivamente, mas ambos sustentam performances anuais robustas, com valorizações de 10,33% para o IDIV e 10,27% para o IFIX no ano.


Na renda fixa,  CDI, referência de baixo risco, teve retorno mensal de 1,28% e um acumulado de 7,77% no ano. No segmento de títulos atrelados à inflação, o índice IMA-B registrou uma queda de 0,79% no mês, enquanto a NTN-B com vencimento em 2028 teve uma leve baixa de 0,05%, e a NTN-B mais longa, para 2035, sentiu mais a pressão e recuou 1,39%. Apesar do desempenho mensal negativo, no acumulado do ano, todos demonstram resiliência, com altas de 7,93% (IMA-B), 7,51% (NTN-B 2028) e 8,66% (NTN-B 2035). 


A perspectiva geral exige cautela diante da política monetária restritiva, da desaceleração econômica e dos riscos políticos latentes.




Até a próxima,

Felipe Picanço, CGA


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